Textos
Alguns trabalhos abordando temas diversos, recentemente publicados em jornais e revistas, com suas referências bibliográficas.
EXPOSIÇÃO DE PINTURA - Triunfo da Independência Nacional

Inaugurada a 27 de Junho pelo Primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, estará patente até ao dia 20 de Julho, no palácio da Cultura, Praia, uma exposição de pintura da autoria do artista José Maria Barreto.

Natural de Assomada, Santa Catarina, onde nasceu em 1957, José Maria Fernandes Barreto é licenciado em pintura monumental com o grau de "Master of Fine Art", pela Academia de Belas Artes de São Petesburgo (ex- Leningrado). Posteriormente fez estágios de formação em Géneve-Suiça, Lisboa-Portugal e Dar-es-Salam-Tanzânia, estando presentemente a preparar uma dissertação com vista à conclusão do Mestrado em História Contemporânea.

Começou a interessar-se pelas artes plásticas desde muito cedo e no próprio ambiente doméstico pelo facto de Ter sido desenhador da construção civil na Câmara Municipal de Santa Catarina e possuía em sua casa gabinete de trabalho no qual, ainda criança, ajudava o progenitor a passar projectos a tinta da china.

Deste modo, já na escala primórdio a sua vocação para arte prendeu a atenção dos professores pela qualidade dos seus desenhos.

Como estudante liceal procurou aperfeiçoar este Dom natural, pois encantado com obras de pintores renovadas, pouco a pouco foi ganhando experiência e desenvolvendo uma educação visual e estética.

Sempre na arte da perfeição, á media que ia aprofundamento os seus conhecimentos na arte pictórica, deixou a linguagem do realismo e, influenciado por Salvador Dali e Pablo Picasso, produziu alguns quadros no estilo Surrealista ("Vacismo", "Àfrica", "Aporthelo"), trabalhos que coincidiram com o período revolucionário que levou á Independência Nacional e através dos quais deu largas ás formas da liberdade na sua imaginação criadora.

Durante a sua estadia no estrangeiro para formação académica experimentou novos estilos e técnicos de pintura, ganhando, então, dimensão e força interactiva exprimiu uma apurada sensibilidade artística.

Daí que, para chegar a um estilo próprio, J.M.B. caldeou e decartou influências na peugada do abstraccionismo expressionista de Kandinsky, o surrealismo de Salvador Dali, o cubismo de Pablo Picasso, o impressionismo de matisse e o realismo de Coubert, aos quais aliam o monumentalismo de Orosco e Diego Rivera ou ainda de siqueiras e portuari, entre outros, uma lógica em que a cabo-verdianidade está bem potente.

Mesmo assim como na primeira fase de sua actividade artística começou pelo desenho, continua a dedicar um cuidado especiais a essa faceta, visto considerar como Leonardo da Vinci, que  "o desenho é a mãe de toda a ciência".

Por isso, o desenho ocupa lugar de relevo na sua pintura, tanto mais que durante a formação, inspirou-se bastante nos ícones das Igrejas ortodoxas Russas e em monumentos mediavais para preparar muitos dos seus trabalhos académicos.

Neste encontro entre o homem e a arte, iludindo concreto está a centelha de fantasia, aplanda em aspectos que requerem alguma reflexão, pela originalidade na abordagem da terras.

Acontece que urdindo a trama que forma o conteúdo dos seus registos, e lhe conferem o estatuto de criatividade, sobredjacente a insagnação e estética com certo abstraccionismo figurativo em que ajusta silhuetas, contorna curvas e desenha rostos expressivos, cujos afeitos artístico traduzem sequências de um intenerário de memórias , vivendas, afectos e alegrias, mas também, de mágoas, tristeza e desalentos, saídas de um talento prende de sensibilidade e um trabalho particularmente elaborado.

Pintura que se sabe pessoal e a um tempo entendimento e quase testemunho de questões sociais guidas por mergulhos num universo que propícia um onírico ingresso na fantasia.

Em termos dos gastos temáticos, J.M.B. navega uma diversificação entre a imaginação e a realidade, grandeamente centrado no quotidiamo destas ilhas, que é atento observador.

Por isso, transpõe para a tela as suas emoções, num diálogo de imagens, tonalidades, capacidade estética e sensibilidade comunicativa, com os quais desenvolve combiantes dos afectos, ternura e dramas deste povo sofredor, embrenhando-se nas suas angústias entrelaçadas com esperanças, que parecem confundir-se no rítimo cromático que imprime a sua pintura.

Para além da pintura, J.M.B foi professor, desempenhou cargos de hefia na função pública e, presentemente, é o coordenador do Palácio da Cultura, na Praia (desde 1999).

Couveu destaca que pela sua contagiante nobreza de carácter, tem estado envolvido na organização de maior parte dos eventos realacionadas com as artes plásticas, nomeadamente exposições, salões de pintura, mesas-redondas, Semanas Culturais, etc., manifestações que muito contribuiram para conduzir á dinâmica que actualmente se verifica neste sector da Cultura cabo-verdiana.

Refira-se, a este propósito, interessante iniciativa levada a cabo por J.M.B. ao organizar e mostrar, com o apoio de Cooperação Suiça, um curso de iniciação á pintura ministrado a quinze jovens, que antes nunca tomaram contacto com esta arte, e aos quais ensinou nações básicas do desenho, técnicas da cor e a sua utilização e, também da própria arte de pintura cujos resultados foram altamente satisfatórias, a ponto de estar com perspectiva novas acções semelhantes.

Já participou, a nível individual e colectivamente, num significativo número de exposições e, agora, José Maria Barreto apresenta-nos uma exposição intitulada "Triunfo da IndependênciaNacional", amostra retrospectiva do percurso deste artista, que abarca mais de três décadas, ou seja um período que vai de 1972 a 2003, englobando uma diversidade de terras e técnicas utilizadas.

As obras plásticas, integradas nesta exposição documentam , portanto, as várias fases evolutivas do percurso deste pintor, Constata-se, entretanto, que em bora tendo o desenho como fio condutor, as linhas de forças da sua pintura se inscrevem numa busca constante ou mesmo ideia de perceptibilidade do homem e dos seus sentimentos mais íntimos.

Deste modo, registo nos seus quadros tantos passagens, históricas como cenas do quotidiano cabo-verdianas, procurando sensibilizar o espectador para o mundo que o rodeia (um apelo a todos os sentidos).

Verdadeiro "malabarista do pincel", desenvolve as suas obras-investigando formas e jogos de luz, que criam uma ilusão de espaço e profundidade, pela, povoação das sombras cuidadosamente estudadas.

Utiliza, ainda, cores e tons em conjugações que parecem exprimir estados do espírito e cria atmosferas que caracterizam o seu estilo pictórico, pela força sugestiva, profundidade térmica e grande plasticidade temática.

Para tento, parte das formas naturais do corpo humano e serve-se do tratamento de uma diversidade de gestos, movimentos, expressões faciais, etc., que reflectem as subtilezas das emoções bem expressas na sua pintura.

Verifica-se , antro sim que as paisagem deu por um lugar secundário no seus quadros, visto optar na suas criações por figuras humanas, com especial relevo para a mulher integrando diversas temáticas e tentando explorar "intimidade", e sentir como amizade, amar, alegria, dar, ou então valores por que se rege pessoalmente e que procura projectar de forma dinâmica nas suas produções.

Consequente e atento ao contexto sociocultural em que está inserida capta-o expressivamente nas suas obras, que se afirmam pela profundidade simbólica, aliada ao humanismo e a um forte sentido de urbanidade.

Efectivamente, as breves considerações formuladas estão longe de apresentar a verdadeira dimensão do homem e do artista, pessoa que assume uma postura que aparenta, de certo modo tímido , em contraste com a força criadora da sua expressão plástica e uma refinada sensibilidade, como certificarão ao visitarem a exposições e tentarem descodificar as mensagens que aos seus quadros são portadores (embora cada um possa ter uma leitura muito pessoal dos mesmos.

(Apresentação Pública, no Palácio Ildo Lobo, em 27 de Junho 2009)