Textos
Alguns trabalhos abordando temas diversos, recentemente publicados em jornais e revistas, com suas referências bibliográficas.
NOVAS TECNOLOGIAS - NOVAS SOCIABILIDADES

                                           “Não fiquem adormecidos no sono fácil das ideias feitas.

                                                     Portanto haja criatividade e inovação”.

                                           Sócrates

 

Denominam-se, comummente, “Novas Tecnologias de Informação” aos sistemas e métodos surgidos no contexto da chamada Revolução da Informação e que facilitaram a comunicação. Esta inovação caracterizou-se por agilizar, horizontalizar e tornar menos “palpável” (fisicamente manipulável) o conteúdo da comunicação, por meio da digitalização e da comunicação em rede (mediada não só por computadores) para a captação, transmissão e distribuição das informações (textoimagem estática, vídeo e som). Considera-se, portanto, que o advento destas novas tecnologias (e a forma como foram utilizadas por governos, empresas, indivíduos e sectores sociais) possibilitou o surgimento da "sociedade da informação". Alguns estudiosos já falam de “sociedade do conhecimento” para destacar o valor deste capital na sociedade estruturada em redes telemáticas.

Daí o mundo assistir à integração e implementação de meios que potenciam uma maior rapidez e eficácia na troca de informação. O acesso a redes dentro e fora das instituições, a videoconferências, à utilização partilhada de documentos em tempo real e à redistribuição de chamadas telefónicas, alguns exemplos da utilização destes novos sistemas.

De um modo geral estão associados à interactividade e à quebra do modelo comunicacional um-todos, no qual a informação é transmitida de modo unidireccional, adoptando o modelo todos-todos, em que aqueles que integrem redes de conexão operacionalizadas fazem parte do envio e da recepção da informação. Neste sentido, algumas técnicas são questionadas quanto à sua inclusão no conceito de novas tecnologias da informação e comunicação ou meramente novos modelos de antigas tecnologias.

No entanto, as tecnologias relacionadas com a revolução da informação oferecem uma infra-estrutura comunicacional que permite a interacção dos seus integrantes. Nesta interligação são geralmente descartados modelos em que haja uma produção unilateral das informações que serão somente repassadas aos outros terminais de acesso. Tal paradigma é considerado reactivo e não interactivo, ao aparecer na internet disponibilizado pelos conhecidos portais e agências mediáticas.

Todavia, perante a convicção de que vivemos “num admirável mundo novo” e numa época de transformações, para alguns comparáveis à do início da imprensa ou às mudanças do Renascimento, estamos num momento em que é necessário parar e pensar, porquanto para a criança século XXI triunfar tem de ir além da informação mediática, pois precisa desenvolver a sua inteligência emocional, as suas competências sociais e os recursos obtidos pela aprendizagem continuada. Torna-se crucial não abster da interacção com o “mundo real” e é decisivo explorar interessadamente o respectivo contexto sociocultural.

Outrossim, o progresso nos deixa deslumbrados face às constantes inovações do mercado técnico-científico, porque a dinâmica/evolução, a troca de informações e o acesso a conhecimentos se tornaram extremamente rápidos, pois, como um passe de mágica, acedemos (p.e.) a textos publicados on-line em qualquer parte do mundo, desde que se esteja ligado à rede mundial de computadores. De análoga maneira, as redes sociais possibilitam contactos e divulgação de notícias com uma rapidez outrora quase impossível (haja em vista as recentes convocações para manifestações populares em vários países).

 As ciências e tecnologias trouxeram, igualmente, uma nova dimensão à educação/formação, assente na capacidade de encontrar uma lógica dentro do caos das informações disponibilizadas em catadupa e de organizar rapidamente uma síntese coerente dos saberes no âmbito de determinada área de conhecimento.

Deste ponto de vista, a constante pressão centrada no uso da informática torna-se cada vez mais evidente em todos os sectores e, principalmente no ensino-aprendizagem de determinadas disciplinas, a sua utilização tornou-se um instrumento quase imprescindível. Identicamente, a “revolução da Internet” garantiu a democratização do conhecimento, o rápido ingresso na comunicação/informação, a possibilidade de contacto em simultâneo com várias pessoas e o entretenimento permanente.

Mesmo nesta última vertente - diversão - a capacidade de brincar contribui para desenvolver a fantasia e a entrada/saída do mundo real, e os próprios que os jogos electrónicos, quando devidamente controlados, permitem às crianças desenvolverem formas de pensar que lhes poderão ser úteis, sabido que através da internet permutam ideias que ajudam a compreender questões a partir de diferentes abordagens.

Porém, a questão reside no facto de tudo parecer fácil, obtido sem esforço e, bastas vezes, sem a necessária análise reflexiva. Por isso, esta técnica de acesso à informação universal pode induzir em erro face à quimera de estar disponível todo e exacto conhecimento sobre determinado assunto. Há que ter em atenção que, se a informação disponibilizada via electrónica se mostra de certa maneira compreensível, acima de tudo é fundamental ter um sentido crítico sobre tal saber. Além disso, considera Alberto Mangel (in Ipsilon) que “o problema com a internet é que nos dá a ilusão que possuímos toda a informação”.

Contudo, nem sempre essa ferramenta vem sendo utilizada da forma mais correcta, principalmente pelos jovens, visto muitos a encararem como mero entretenimento centrado apenas em redes sociais e jogos. Neste caso alerta Mário Vargas Llosa que “a revolução audiovisual que é fantástica do ponto de vista tecnológico, criou a ideia de que o principal objectivo da cultura é o entretenimento”. Claro que conviver e conversar são actividades importantes, mas a internet pode também constituir-se numa mais-valia a favor dos estudantes quando explorada como instrumento de aprendizagem.

As novas tecnologias de comunicação trouxeram, ainda, enormes vantagens aos mais diversos sectores da sociedade, exemplificado com o quanto ajudaram no processo de recuperação da informação através das bases de dados em CD-ROM e on-line, como também facilitando a obtenção do conteúdo desejado.

Do mesmo modo, favoreceram a tendência para as empresas terem fronteiras cada vez menos demarcadas em relação ao respectivo “campo de actividade” ao trabalharem "em rede" com as suas congéneres e até no próprio seio, visto os seus colaboradores estarem mais conectados. No entanto, grandes empreendimentos utilizam igualmente em seu proveito a benesse duma conformação que pode agir em detrimento da população, na medida em que apenas uma máquina robotizada na unidade de produção faz o mesmo serviço de vários humanos, que por consequência perdem o emprego.

Todo este avanço tecnológico, que possui valiosos prós e bastantes contras, faz parte de um processo (mais vasto que a chamada globalização) cuja dinâmica não deve ser abrandada mas sim acompanhada, sendo de grande valia manter-se ciente da situação e tentar adaptá-la a cada contexto socioeconómico.

Embora se mostre difícil conhecer o seu real impacto económico, constatam-se contornos e indicadores interessantes, como maior facilidade e rapidez de acesso à informação, melhor coordenação de colaboradores dispersos geograficamente (integração e automatização dos processos de negócio), incremento da possibilidade de participação nas actividades de gestão com os superiores hierárquicos, entre outros.

Saliente-se, entretanto, que a internet se transformou num poderoso meio através do qual são transmitidas informações em tempo real (utilizando suportes não previsíveis nos meados do século XX). Acontece que esta nova modalidade de comunicação não se serve somente dos meios convencionais (jornais, rádio e televisão), como também é transmitida a partir de redes sociais, chats de conversação, plataformas e uma vasta panóplia de instrumentos que utilizam a mesma tecnologia.

Existe neste cenário uma grande variedade de interfaces, sendo, pois, compreensível que tamanha diversidade concorra para propiciar transformações, pois na era globalizada tudo parece mudar rapidamente. Por isso os sites de busca acompanham essa tendência, tanto no design como nos objectivos específicos, além de a própria internet representar um factor que desencadeia renovações e onde se percebe quase que uma “anarquia controlada”.

Atente-se, portanto, nas constantes actualizações que se operam nesta área. Quem imaginaria há poucas décadas que aparelhos com razoável volumetria se transformariam em equipamentos portáteis, capazes de serem transportados no bolso? A ciência e a técnica evoluem constantemente e quando o consumidor supõe que não há nada a inovar, eis que surge algo de mais avançado. São os telemóveis de última geração, os computadores portáteis, as televisões de alta resolução com ecrãs de plasma, a aparelhagem sonora, as impressoras com scaner, as câmaras de filmar e as máquinas fotográficas digitais, os electrodomésticos que diminuem de tamanho e contém cada vez mais funções, os automóveis que aumentam a sua funcionalidade, tudo justamente para facilitar a vida do utilizador.

Similarmente a evolução das tecnologias da informação e da comunicação impôs uma redefinição do ambiente de trabalho, ao ponto de em determinados campos especializados constatar-se uma significativa percentagem de trabalhadores que não se deslocam ao local de trabalho devido à maior propensão para trabalhar a partir da residência, acertada hipótese numa altura em que a flexibilidade se tornou um dos assuntos na ordem do dia.

Na era digital o indivíduo pode partilhar a mesma tecnologia independentemente do local onde estiver: em casa, no trabalho, em viagem. Conquanto haja quem pense que não convive directamente com essa modernização, basta lembrar que o simples acto de pagar com o cartão multibanco, usar o telemóvel, ver televisão, sair à rua e expor-se às câmaras que nos monitorizam, insere qualquer cidadão nesse mundo globalizante.

Entrementes, como quase tudo na vida, este tipo de progresso apresenta prós e contras no contexto das sociabilidades, pelo que ao aproveitar os seus muitos aspectos benéficos, se deva cuidar igualmente do lado perverso que se esconde por trás deste maravilhoso avanço técnico-científico. Daí não se poder esquecer o quesito das redes sociais, que constituem um óptimo meio para conviver e divulgar ideias, mas que integra perigos, nomeadamente a exposição pública. Alguns utilizadores divulgam informações pessoais e fotografias sem acautelarem a sua própria privacidade, fazendo com que nessas redes muito rapidamente o privado passe para o domínio público.

Conquanto espelham uma parcela do desenvolvimento, por serem abertos e sem controlo, apresentam desvantagens na forma como são utilizadas as bases que disponibilizam, tendo em vista que os “espaços” para comentários nos sites, criados para alargar a esfera pública mediática e os jornais on-line, tornaram-se “territórios” que alimentam as frustrações dos exasperados, dos despeitados, dos ressentidos, dos voluntariosos e dos tagarelas, onde podem desbobinar insultos, disseminar ódios e opiniões, gritar impropérios e lançar calúnias de uma forma ruidosa e emocional, que afasta ou abafa quem com saber ou racionalidade argumentativa se disponha a intervir ou esclarecer.

Também, a cultura subterrânea da Internet, com os seus hackers, com os seus génios e piratas, com os seus guerrilheiros, com as suas filiações e coaptações, criou uma outra matriz informática, anárquica e subversiva, actuando quase impunemente no interior de empresas e instituições, tanto particulares como estatais, porque o vulgar establishmente não os tem conseguido controlar. Logo, a moderna razão avessa ao “agir comunicacional” encontra nesses locais a sua realização extrema e ilimitada, transformando-os num instrumento de barbárie.

No entanto, a ciência e a técnica estão em permanente evolução e muitos estudiosos afirmam que não podemos viver sem elas, a sua utilização já se encontra implementada no quotidiano de todos os povos e, embora haja diferentes realidades de acesso aos novos equipamentos, detecta-se a sua presença em todas as regiões.

Consequentemente, ao mesmo que tempo revolucionaram todas as formas de comunicação e produção, hoje as novas tecnologias encontram-se ao alcance de todos, independentemente da dimensão ou localização dos grupos. Também, o advento da internet melhorou a qualidade de vida ao possibilitar o acesso a bens e serviços, entre muitas outras facilidades que proporciona sem se sair de casa. Incorporadas nos processos de produção/criação, apresentam-se como um dos factores mais preciosos na dinâmica do desenvolvimento, viabilizando e potenciando vantagens competitivas aos seus utilizadores e às organizações, com efeitos multiplicadores na sociedade em geral.

Refira-se, a propósito, que Cabo Verde vem acompanhando a tendência mundial em termos de acesso às novas tecnologias e nalguns casos os produtos colocados à disposição da população têm gerado impactos positivos na vida dos cabo-verdianos.

 Assim, quando utilizadas com coerência e sentido crítico, as novas tecnologias permitem melhores e rápidos acessos à comunicação, interacção e socialização, fundamentais para o Desenvolvimento Humano. 

(A Nação nº291, Praia, 28 de Março a 03 de Abril de 2013 e nº 292, 4 a 10 de Abril de 2013)